Centro de reabilitação Lucy Montoro de Rio Preto vai iniciar, na próxima terça-feira, tratamento multidisciplinar de 17 pacientes que ficaram com sequelas após se recuperarem da Covid-19.
Comparada inicialmente com uma pneumonia, a Covid-19 ao decorrer dos últimos meses mostrou que vai muito além de uma infecção no pulmão. Pacientes recuperados da doença ainda sentem por semanas fadiga, alteração do paladar, perdas cognitivas e do olfato, entre outros. Com o objetivo de tratar essas sequelas, o Centro de Reabilitação Lucy Montoro de Rio Preto iniciará na próxima terça-feira, 1° de setembro, o tratamento de pacientes que continuam com efeitos da doença.
Pesquisadores de todo o mundo já estudam sobre como o coronavírus age no corpo humano. Estudos brasileiros confirmaram que a doença pode infectar até os neurônios. Por ser uma doença sistêmica, ou seja, que afeta todo o corpo humano, pacientes que tiveram sintomas leves da doença, sem precisar ficar internados, e também os que tiveram a forma grave sentem sequelas. É o caso da manicure Michele Cristiane da Silva, 36 anos, que chegou a ficar internada, em junho, na Santa Casa de Rio Preto.
“Depois que eu saí do hospital fiquei sem o paladar e o olfato. Tomava café, mas não conseguia discernir o sabor. Depois de alguns dias, o paladar voltou. Sinto até hoje cansaço e perdi muito cabelo. Até hoje cai. Quando limpo a casa, às vezes falta ar, aí sento um pouco no sofá. Não é mais como antes”, disse, dois meses depois de ter sido considerada recuperada da doença.
Uma página do Facebook intitulada “Eu já tive Covid-19” traz inúmeros relatos de pessoas que permanecem com sintomas. “Olá amigos, alguém mais com quase três meses de Covid e ainda não recuperou totalmente o olfato?”, questionou uma internauta nesta terça-feira, 26.
Segundo a médica fisiatra e diretora do Lucy Montoro de Rio Preto, Regina Chueire, 17 pacientes que ficaram com sequelas após se recuperarem da Covid-19 já passaram pela triagem com os profissionais de reabilitação do Lucy. “Sexta-feira vamos fazer uma reunião com todos os profissionais para estabelecer as estratégias de tratamento para esses pacientes e vamos começar o tratamento a partir de 1° de setembro. Depois esses pacientes serão reavaliados e, à medida que forem melhorando, vão se desligando do serviço”, explicou Regina.
A fisiatra destaca que entre as sequelas já identificadas em Rio Preto estão fadiga, perda de massa muscular, perdas cognitivas, de olfato e de paladar. “O que vemos são pessoas com uma fadiga, diferente de falta de ar, é moleza, quem teve dengue já viu isso. São pessoas que têm dificuldade para subir uma escada, dificuldade para fazer atividades da casa. Outros perdem muita massa muscular e ficam com grande dificuldade até de mastigação, levando a casos de desnutrição e desidratação”, afirmou.
Perdas cognitivas também estão entre as sequelas de coronavírus identificadas pela equipe multidisciplinar do Lucy Montoro. “Nessa triagem, percebemos que a maioria vem apresentando uma lentificação no processo cognitivo. São pensamentos mais lentos que acabam interferindo no processo de memória. Conversando, os pacientes relatam não ter mais agilidade como antes, queixas de estarem mais distraídos. De esquecer mais as coisas. Identificamos também que estão mais ansiosos, impacientes e com medo de não desenvolverem atividades de rotina e do trabalho como antes”, diz a psicóloga Cristina Vitti.
O fisioterapeuta da rede Fabio Ricardi destacou que um trabalho para ajudar na capacidade respiratória será desenvolvido com os sequelados que sentem fadiga após se recuperarem. “Nossa abordagem vai ser para ajudar na capacidade respiratória, porque o vírus atinge a parte muscular e o pulmão. Vamos trabalhar na questão de fortalecimento corporal, ajudando no fortalecimento da funcionalidade”, disse.
Como participar
A fisiatra Regina Chueire ressalta que os recuperados a serem atendidos em Rio Preto precisam ter mais de 30 dias das possíveis sequelas. “Para buscar o atendimento é só procurar a unidade de saúde da cidade, que faz o encaminhamento. Tem que ter o diagnóstico laboratorial mais de 30 dias depois do contágio. Por exemplo, pessoas que, ao subir uma escada, se cansam podem procurar uma unidade de saúde para fazer o encaminhamento ao Lucy, como também pessoas que estão com outras sequelas.”
Além da rede Lucy Montoro, centros de recuperação de São Paulo, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul farão o trabalho de reabilitação. A unidade do Lucy de Rio Preto atende cerca de 200 cidades, incluindo municípios que integram o Departamento Regional de Saúde de Rio Preto, Araçatuba e algumas cidades da região de Barretos. “Assim que esses pacientes chegarem vamos fazer a avaliação com todos os profissionais, em seguida começamos o tratamento. Como muitos pacientes tiveram perda de massa muscular, vamos disponibilizar suprimentos nutricionais para esses casos”, finalizou Regina.
O pós-Covid
Possíveis sequelas da doença
O que o coronavírus faz no corpo humano
Cérebro
Olhos
Nariz
Coração e vasos sanguíneos
Pulmão
Fígado
Rins
Intestino
Recomendações para perda de olfato
Médicos indicam cheirar, por dez segundos, com pequeno intervalo, os seguintes produtos
Fonte: Revistas Science, The BMJ, The American Journal of Gastroenterology, JAMA Cardiology, Journal of the American Academy of Dermatology, Hospital das Clínicas de São Paulo e Instituto Lucy Montoro
Pesquisadores estudam sequelas
Pesquisadores já estudam sobre as sequelas da doença e como elas agem no organismo humano. Sem ter um remédio específico para o tratamento de Covid-19 e sem a vacina, autoridades de saúde continuam a alertar que o único mecanismo capaz de conter o vírus e evitar ser contaminado é o distanciamento social.
A consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Eliana Bicudo, afirma que assim como outras doenças, a Covid-19 já se mostrou ser sistêmica. “É uma doença que inflama o coração, intestino, fígado e com isso alguns pacientes ficam com mais tempo de inflamação”. Segundo a infectologista, o sistema imunológico pode explicar o porquê de algumas pessoas ficarem com sequelas, enquanto outras não. “Depende muito da sua resposta imunológica, por exemplo, se você leva um soco no rosto, seu rosto vai ficar inchado, alguns demoram mais outros menos. Mas a Covid ainda não tem muitas questões que ainda estão sendo estudadas”, disse Eliana.
Sobre a perda do olfato, o médico otorrinolaringologista Marco Aurélio Fornazieri recomenda que os pacientes induzam o olfato com produtos em casa. Segundo ele, quem está sem paladar ou olfato pode pelo menos duas vezes ao dias cheirar, na sequência, por dez segundos, com pequenos intervalos, sete produtos: café, cravo, mel, suco de tangerina, vinagre de vinho tinto, pasta de dentes de menta e essência de baunilha.
“Não é um tratamento de um dia para o outro. O olfato precisa de alguns meses, seria como uma fisioterapia olfatória. Quem perdeu o olfato, deve ficar atento com fumaça e data de validade dos alimentos. Quem não recuperou depois de 15 a 20 dias, vale a pena procurar um especialista”, destacou.
Ainda segundo o otorrino, o paladar e o olfato estão atrelados. “95% das pessoas que dizem não sentir o gosto, na verdade, não estão sentido cheiro, porque quem dá gosto na maior parte é o nariz e não a boca. As pessoas não sentem gosto, porque não estão sentindo cheiro”, explicou. (RC)
Fonte: Diário da Região
