A pandemia do novo coronavírus, Covid-19, é o assunto mais discutido nos dias de hoje, seja no imaginário popular, nos veículos de mídia ou nas páginas da literatura científica. Esta realidade é decorrente do medo, da incerteza e, principalmente, do desconhecimento sobre o comportamento da doença. De antemão, pode-se afirmar que tem capacidade de disseminação geométrica, grande impacto socioeconomômico mundial e taxas de letalidade, que aparentemente baixas no contexto global, parecem ser muito altas entre idosos, principalmente, na Itália.
A doença tem influenciado o cotidiano de todos de forma contundente. Desde a obrigatoriedade em seguir regras de isolamento social estritas, com concomitante fechamento de fronteiras impostas por governos de alguns países, até ao planejamento e à adoção de medidas de saúde para enfrentar a crise onde ainda está incipiente. O certo é que a Covid-19 impregnou-se no cotidiano de todos, de forma dominante e, talvez, sem precedentes.
Usando-se o buscador da internet Google com os termos “Covid-19”, “Covid19”, “Covid 19”, “Covid-19 Brasil”, “coronavirus” e “coronavirus Brasil” os números alcançam quase nove bilhões de resultados quando não se restringe ao Brasil, e cinco quando o país é especificado. São números que, provavelmente, impressionam qualquer céptico em relação à magnitude da enfermidade e alertam aqueles que estão cientes do impacto sobre a sociedade contemporânea global, principalmente aqueles que trabalham na área da saúde. Neste quesito, os médicos são não só os responsáveis por triar, atender e tratar aqueles acometidos pela doença mas também os questionados pela população sobre como comportar-se frente às mais diversas situações. Isso demanda conhecimento sobre a enfermidade e preparo para enfrentá-la, algo difícil em qualquer circunstância, pois trata-se de doença muito nova, que surgiu no final de 2019. A despeito desta realidade, em pouco mais de três meses, pode-se encontrar na literatura científica grande número de publicações que abordam a doença, nos diversos tipos de divulgação científica como experimentos in vitro, relatos de casos, uso de potenciais medicamentos e até revisão sistemática1.
No Pubmed há, conforme a palavra-chave utilizada, entre 1300 a mais de 3000 artigos publicados, o que denota a relevância do assunto (figura 1)2. Por outro lado, a capacidade para ler, analisar e concluir sobre o que melhor se aplica à realidade de cada um é limitada, não só pelo pouco tempo, mas também por falta de conhecimento sobre o método científico correto. Há muito que Jonh Ioannidis vem questionando a deficiência metodológica da pesquisa e a falta de senso crítico dos profissionais da saúde3–6. De forma provocativa, em recente texto de opinião, Ioannidis volta sua “metralhadora metodológica” contra os dados apresentados até o momento sobre o Covid-197. Todas estas incertezas aumentam a responsabilidade daqueles que, talvez, melhor possam orientar tanto o público em geral como os médicos: os órgãos de saúde mundial e nacional, e as sociedades de especialidades. Saliente-se que esta tarefa é árdua e pode também ser marcada por controvérsias, uma vez que o que hoje parece ser lógico, amanhã poderá ser contestado. Afinal, as verdades transitórias sempre marcaram a Medicina.
Fonte: World Health Organization