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Pais e educadores frente a crianças em casa

Por Claudia Costin

Estamos vivendo, nos últimos dias, um confinamento quase geral, com muitos pais fechados dentro de casa com seus filhos, tentando trabalhar à distância, ao mesmo tempo em que precisam entretê-los e, eventualmente, apoiá-los nas atividades que as escolas enviam. Certamente não é uma atmosfera propícia à paz familiar.

Não se trata, de fato, de um período tranquilo, sob nenhum aspecto. Estamos lidando com uma pandemia que, apesar de prognósticos inicialmente mais positivos, deve chegar, segundo estimativas da OMS, a 100 milhões de casos confirmados —o número de mortos já atingiu 50 mil. Neste contexto, cerca de 165 países no mundo estão com as escolas parcial ou totalmente fechadas. As crianças são consideradas, por epidemiologistas, como potenciais portadoras assintomáticas do vírus, podendo acelerar a contaminação da doença em parcelas da população mais suscetíveis a complicações dela decorrentes.

Médicos e outros profissionais da saúde estão na linha de frente, sofrendo o desgaste físico e emocional de uma luta que lhes tem trazido certo tardio reconhecimento da população, ao mesmo tempo em que muitos contraem a doença.

Professores tanto de escolas públicas quanto de particulares têm reservado tempo e empenho para assegurar que as perdas em aprendizagem não sejam grandes demais. Conversando com dirigentes de educação, diretores de escola e docentes das mais diversas partes do país, acompanho o seu esforço em assegurar que, seja por plataformas de EaD, televisão, rádio, cadernos de exercícios e orientação para as famílias por grupos de WhatsApp, as crianças e jovens continuem a aprender. Afinal, o Brasil já não andava bem em educação antes da crise.

Nesse sentido, as dificuldades dos pais se enquadram num contexto mais geral de tensão e esforço de todos. E, sim, como em guerras ou em outras situações que afligem países, um empenho extra é demandado deles.

Para lidar com esta situação, o Todos pela Educação vem recomendando que façamos algo simples e ao mesmo tempo providencial neste período: que conversemos com as crianças. Explicar o que vivemos e ouvir suas ansiedades e percepções é muito importante para aplainar as tensões.

Vale a pena também lembrar que pais educam e podem usar estas semanas para fortalecer vínculos familiares, formar para a autonomia —inclusive ensinando meninos e meninas a assumirem tarefas domésticas— e preparar adultos aptos a atuar com responsabilidade frente a desafios planetários. E, quando tudo isso acabar, muitos pais certamente passarão a dar mais valor aos professores que, nas escolas, cotidianamente educam seus filhos.

Claudia Costin é Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
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