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Rio Preto é polo de pesquisa e tratamento da Covid

Além dos testes com a vacina contra o coronavírus, feitos pela Famerp, o Centro Integrado de Pesquisa do Hospital de Base participa  do estudo de cinco medicamentos aliados contra a Covid. E o Centro de Reabilitação Lucy Montoro inicia o tratamento de sequelas deixadas pela doença.

Um medicamento que funciona contra diabetes e insuficiência cardíaca pode ser um aliado para evitar que o coronavírus atinja o coração e os rins. O Centro Integrado de Pesquisa (CIP) do Hospital de Base de Rio Preto está participando de estudo multicêntrico para comprovar a eficácia da dapaglifozina para evitar essas complicações da Covid-19. Além dessa, há outras cinco pesquisas conduzidas pelo HB envolvendo tratamento do coronavírus.

Lilia Nigro Maia, diretora do CIP e investigadora principal no estudo da dapaglifozina, afirma que o medicamento já foi testado em pacientes do HB e mais serão incluídos. “Queremos testar em quem tenha forma moderada da doença. Não queremos em quem já está em casa, porque esse doente tem 80% de chance de ir bem de qualquer jeito, com ou sem remédio, e nem em quem está mal em UTI, com a forma grave, porque queremos saber se o remédio evita a forma grave”, explica a cientista.

Os pacientes que são convidados a participar do estudo são aqueles que tenham até quatro dias de internação na enfermaria, utilizando até cinco litros de oxigênio e que tenham algum fator de risco que possa colaborar com uma evolução ruim. Parte deles receberá o placebo, mas a equipe do HB não sabe quem tomou o medicamento e quem recebeu o comprimido sem efeito algum.

O tratamento tem duração de 30 dias, independentemente da alta – nesse caso, a pessoa continuará em casa. “No mundo estamos perto de 300 pacientes. Nosso centro é o que mais tem. Vamos testar mais, a previsão é que inclua pacientes por mais dois meses e que em dezembro a gente tenha a resposta, se funciona ou não”, diz Lilia.

Se os resultados apontarem que a dapaglifozina é eficaz em evitar complicações da Covid-19, esse uso deve ser aprovado junto aos órgãos governamentais reguladores: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, o FDA (Food and Drug Administration), dos Estados Unidos, e a European Medicines Agency (EMA), da União Europeia.

A substância impede que a glicose em excesso retorne para a circulação sanguínea, sendo removida do corpo pela urina, reduzindo os níveis de açúcar no sangue. É utilizada como medicamento secundário (coadjuvante) para tratar diabetes e estudos comprovaram que é benéfica para o coração.

O estudo começou em junho de 2020 por iniciativa do cardiologista Mikhail Kosiborod, do Saint Luke’s Mid-America Heart Institute, de Kansas City, nos Estados Unidos, e recrutou doentes com Covid-19 voluntários do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Índia.

Outros estudos

Os outros cinco estudos do CIP têm como objetivo o desenvolvimento de cinco diferentes medicamentos, em duas frentes: os antivirais e os que modulam a resposta inflamatória do organismo para combate e tratamento da Covid-19.

Suzana Lobo, médica intensivista investigadora chefe das cinco linhas de trabalho, acredita que as pesquisas podem ser concluídas em três a quatro meses.

“Normalmente, pesquisas clínicas demoram, no mínimo, dois anos para serem concluídos, em grande parte porque o número de pacientes envolvidos é restrito. Por ser a Covid-19 uma pandemia, há um número enorme de pacientes, o que nos permite ter um universo maior para observações e comparações para se chegar às conclusões que queremos”, afirma ela, que também é diretora presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB).

Os estudos envolvem duas frentes de drogas: as antivirais e as que modulam a resposta inflamatória do organismo à presença do vírus. Estas últimas evitam uma resposta inflamatória exacerbada do corpo, que resulta em impactos nocivos em órgãos como os rins, o fígado e o coração, inclusive alterando suas funções orgânicas.

Suzana Lobo destaca o papel relevante destas drogas até que se chegue a uma ou mais vacinas contra o coronavírus. “Estes medicamentos são muito importantes porque tem o potencial de diminuir o tempo de internação e a mortalidade entre os infectados. Se não conseguimos imunizar as pessoas ou curá-las, vamos minimizar o risco de morte”, diz a médica.

Dos cinco estudos, quatro encontram-se nas fases 2 e 3, nas quais é analisada a eficácia terapêutica do medicamento. Se comprovada, resta somente ao estudo ser aprovado pelos órgãos reguladores governamentais dos países para serem ministrados aos doentes. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é o órgão regulador.

O estudo

Dapaglifozina e coronavírus

  • A dapaglifozina é usada normalmente no combate ao diabetes e à insuficiência cardíaca
  • Nesses testes, tem sido utilizada para reduzir as complicações causadas pela Covid-19 em pacientes cardíacos, hipertensos e diabéticos
  • O medicamento funcionaria como um protetor ao coração e aos rins, diminuindo os danos causados pela doença
  • O estudo
  • Começou em junho no Saint Luke’s Mid-America Heart Institute, em Kansas City, Estados Unidos
  • Tem sido testado em pacientes voluntários dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Índia e Brasil
  • No Brasil, o estudo com o medicamento é coordenado pelo Hospital Albert Einstein, de São Paulo, e conta com a participação de 12 instituições de saúde, envolvendo 187 pacientes
  • Em Centro Integrado de Pesquisa (CIP), do Hospital de Base de Rio Preto, terá 53 participantes
  • Para participar, os pacientes devem ser considerados de risco moderado, estar em enfermaria ao menos há quatro dias, sem uso de oxigênio ou dependente de pequena quantidade, e possuir ao menos um fator de risco para o coração ou rim
  • Durante o estudo, os pacientes podem estar internados ou ter recebido alta hospitalar, sendo acompanhados em casa

Outros estudos

  • O CIP participa ainda de outros seis estudos que envolvem visam o desenvolvimento de cinco diferentes medicamentos (antivirais e que modulam a resposta inflamatória do organismo)

Funfarme avalia participação em pesquisa

Ainda está em avaliação e negociação pelo Conselho de Ética a participação da Fundação Faculdade Regional de Medicina (Funfarme) no estudo para avaliar a eficácia do composto de tripla ação ABX 464 na prevenção de complicações em pacientes de alto risco de coronavírus.

De acordo com o infectologista Maurício Lacerda Nogueira, que coordenará a pesquisa se ela for aprovada, a expectativa é que as negociações sejam concluídas em até dez dias e que, em no máximo duas semanas depois disso, os estudos possam começar.

A pesquisa é voltada para as pessoas do grupo de risco que tenham testado positivo para coronavírus: idosos com mais de 65 anos e quem têm obesidade, pressão alta, diabetes ou doença cardiovascular. Em Rio Preto, de 20 a 40 pessoas seriam incluídas no estudo.

O composto ABX464 tem tripla ação: efeito antiviral para inibir a multiplicação do coronavírus, causador da doença; efeito anti-inflamatório para prevenir e tratar a síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e propriedade de reparação de tecidos que previne problemas pulmonares a longo prazo, após a cura da Covid-19.

O medicamento já foi testado em outros voluntários e o objetivo é que os pacientes não desenvolvam gravidade, que demanda hospitalização e, muitas vezes, a intubação. Os voluntários vão tomar uma cápsula do remédio por dia por 28 dias, sem necessidade de internação, mas somente de monitoramento. (MG)

O estudo

O ABX464 é produzido pela Abivax, companhia francesa de biotecnologia

Segundo a empresa, o remédio tem três objetivos:

  • Efeito antiviral para inibir a multiplicação do vírus
  • Efeito anti-inflamatório para prevenir e tratar a síndrome respiratória aguda grave
  • Propriedade de reparação de tecidos, que previne problemas pulmonares a longo prazo, após a cura da Covid-19.

O estudo mira pessoas com confirmação de Covid e com:

  • 65 anos ou mais
  • obesidade
  • pressão alta
  • diabetes
  • doença cardiovascular
Como o estudo funciona
Os participantes devem tomar uma cápsula do medicamento em estudo por via oral, uma vez por dia, durante 28 dias. O tratamento pode ser feito em casa, sendo desnecessária a hospitalização do participante. Fonte: Abvax
Antiviral estudado na Unesp
A Unesp de Rio Preto estuda desde maio um antiviral contra o coronavírus. A pesquisa está sendo feita por pesquisadoras do Departamento de Biologia do Ibilce, em parceria com pesquisadores da Unesp de Araraquara. O objetivo é descobrir um medicamento antiviral capaz de prevenir ou tratar a doença.
Segundo a professora e pesquisadora do Ibilce Marilia de Freitas Calmon, os peptídeos – compostos formados pela união de dois ou mais aminoácidos – foram desenhados na Unesp de Araraquara. Por já ter tradição em estudos de antivirais para arboviroses, como zika, chikungunya e dengue, desde maio, a Unesp de Rio Preto é a responsável pelos estudos desse antiviral.
“No combate à doença, temos que ver em que etapa que ele (antiviral) vai estar atuando. Se ele não está permitindo o vírus entrar na célula, então podemos usar como prevenção. Agora se ele está atuando na replicação, você pode usar num tratamento. Por exemplo, a pessoa está infectada, você entra com esse antiviral, então o vírus não vai se proliferar”, explicou sobre a pesquisa, que está na primeira fase dos estudos in vitro.
O estudo do antiviral também acontece em três etapas, como o das vacinas. Após a fase exploratória, o estudo do antiviral do Ibilce passará pela de testes em camundongos. Caso o resultado seja positivo, o antiviral passa pela última fase, que é da testagem do produto em seres humanos. (RC)
Sequelas são tratadas no Lucy Montoro
“Eu mordia um pedaço de gengibre e não sentia o gosto. Se tá queimando a comida, queima, porque você não sente o cheiro”, conta a técnica em enfermagem Bruna Valéria Gomes da Silva, de 36 anos. Após ter se recuperado da Covid-19, ficou com sequelas da doença. Com falta de olfato e paladar, perda de massa muscular e até fadiga em ações do dia a dia, como no simples ato de limpar a casa, Bruna é uma das 35 pacientes que já passaram pela triagem no Centro de Reabilitação Lucy Montoro de Rio Preto, e que começou nesta terça-feira, 1°, o tratamento das sequelas.
Diagnosticada em junho com a doença, Bruna ficou 17 dias apresentando o quadro de vômito e febre. A doença fez com que a técnica em enfermagem perdesse oito quilos e chegasse ao ponto de não conseguir se levantar da cama. Depois de muita luta, ela conseguiu se recuperar, mas ficou com sequelas que as fizeram procurar o Centro de Reabilitação para tratamento.
“Depois de recuperada, eu continuei com o cansaço e essa falta de força. Quando vim fazer a triagem, meu exame detectou essa perda de massa muscular. Agora vou fazer acompanhamento com o pessoal da fisioterapia, psicologia e com a equipe de serviço social. Fora isso também tive perda de olfato e paladar, não sentia gosto das coisas”, disse a técnica em enfermagem.
Casos como de Bruna serão estudados pela unidade do Lucy Montoro de Rio Preto. Ao decorrer dos próximos meses, ela será acompanhada por profissionais do centro de reabilitação para recuperar a massa muscular perdida e voltar a normalidade quanto ao cansaço. Contudo, além disso, suas sequelas serão estudadas para ajudar no tratamento de outros pacientes que venham também a ter sequelas similares. “Assim que esses pacientes chegam, fazemos a avaliação com todos os profissionais, em seguida começamos o tratamento”, explicou a médica fisiatra e diretora do Lucy de Rio Preto, Regina Chueire.
A unidade de Rio Preto integra um grupo de universidades brasileiras que vão estudar as sequelas da Covid-19. Centros de recuperação de São Paulo, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul farão parte do estudo. “O que vemos até agora são pessoas com uma fadiga, diferente de falta de ar, é moleza, quem teve dengue já viu isso. São pessoas que têm dificuldade para subir uma escada, dificuldade para fazer atividades da casa. Outros perdem muita massa muscular e ficam com grande dificuldade até de mastigação, levando a casos de desnutrição e desidratação”, destacou.
Na reabilitação dos recuperados, são avaliadas as principais sequelas causadas pela Covid-19, como a pulmonar, sequelas físicas, psicológicas e neurológicas. Os recuperados são avaliados por médicos fisiatras, fisioterapeutas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos e nutricionistas.
Para serem atendidos, os pacientes precisam ter mais de 30 dias das possíveis sequelas e ter testado positivo para a doença. “Para buscar o atendimento é só procurar a unidade de saúde da cidade, que faz o encaminhamento. Tem que ter o diagnóstico laboratorial mais de 30 dias depois do contágio. Por exemplo, pessoas que, ao subir uma escada, se cansam podem procurar uma unidade de saúde para fazer o encaminhamento ao Lucy, como também pessoas que estão com outras sequelas.
“A unidade do Lucy de Rio Preto atende cerca de 200 cidades, incluindo municípios que integram o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Rio Preto, Araçatuba e algumas cidades da região de Barretos.
O pós-Covid
Possíveis sequelas da doença:
  • Tosse crônica
  • Alteração do paladar
  • Alteração na deglutinação
  • Perda de olfato
  • Alterações psiquiátricas
  • Fraqueza muscular
  • Diminuição da capacidade muscular
  • Fadiga extrema
  • Problemas cardiovasculares
  • Perda de massa muscular
  • Dificuldade para andar
  • Perda de cabelo

Saiba mais:

Fonte: Diário da Região

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